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O NOVO NUTRIENTE ESSENCIAL À GRAVIDEZ


É o DHA, gordura encontrada originalmente nos peixes e crucial para o desenvolvimento do cérebro do bebê. Médicos brasileiros divulgam o primeiro consenso sobre seu consumo durante a gestação e a amamentação.
Que venha ao mundo com saúde! Essa é a maior preocupação dos pais desde as primeiras semanas de vida do filho, quando ele ainda está na barriga da mãe. Agora, a lista de recomendações que toda gestante deve seguir para que a criança aproveite da melhor maneira possível os nove meses dentro do útero terá um novo e importante item: a ingestão do ácido docosa-hexaenico, mais conhecido pela sigla DHA. Membro da família da gordura ômega-3 e fornecido por peixes como a sardinha, o atum e o salmão selvagem, o nutriente, que também é receitado na forma de suplemento, ganha o primeiro consenso médico brasileiro focado em seu consumo durante a gravidez e a fase de aleitamento.

A justificativa para tamanho estaque recai sobre um dos seus mais estudados papéis, o de atuar na formação do cérebro do bebê. "O DHA participa da constituição da membrana das células que compõem o sistema nervoso central. Assim, as transmissões entre os neurônios dependem dele para acontecer", reforça o pediatra Ary Lopes, chefe da Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. Embora seja investigada faz mais de duas décadas, só recentemente essa gordura passou a ser vista como uma aliada de peso na gestação. Já há quem diga, inclusive, que ela mereceria status parecido ao do ácido fólico, vitamina que continua imprescindível nesse período, mas por outras razões.

"Além de indispensável para as células nervosas, o DHA tem propriedades anti-inflamatórias e anticoagulantes", ressalta o médico chileno Ricardo Uauy, membro do conselho que elaborou as recomendações da Organização Mundial de Saúde sobre a ingestão da substância na gravidez e na lactação. "O acúmulo de DHA no cérebro começa no terceiro trimestre da gestação e avança até pelo menos dois anos depois do nascimento do bebê", completa Susan Carlson, professora de nutrição da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, e pioneira nos trabalhos de identificação do DHA como um propulsor do desenvolvimento infantil. Em seu último estudo, Susan analisou o efeito da suplementação do nutriente em grávidas durante dez anos e observou que a ingestão de 600 miligramas de DHA por dia também reduz o risco de parto prematuro e baixo peso ao nascer.
  É na pegada dessas descobertas que acaba de sair o consenso brasileiro, apresentado em São Paulo durante o 18º Congresso Brasileiro de Nutrologia. "Há muitos artigos publicados sobre o tema e sentimos falta de um posicionamento mais definido por aqui, já que não havia uma recomendação oficial no país", declara o nutrólogo Carlos Alberto Nogueira, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia. Tanto o Ministério da Saúde quanto a Sociedade Brasileira de Pediatria ainda não possuem diretrizes destinadas ao assunto.
RECONHECIMENTO INTERNACIONALA importância do DHA durante a gravidez e a amamentação já está bem consolidada fora do Brasil. A diretriz da Organização Mundial de Saúde recomenda a ingestão mínima de 200 miligramas diários do nutriente ao longo dessas duas fases. Em 2012, a Academia Americana de Pediatria incluiu a mesma orientação em sua política de aleitamento materno. E as autoridades europeias também passaram a endossar o consumo de 100 a 200 miligramas por dia para as novas mamães. Agora é a vez de um posicionamento dos médicos brasileiros. 
O documento brasileira indica a ingestão de DHA durante a gravidez, a amamentação e até os 2 anos de vida da criança. Com base nas pesquisas a respeito, o valor mínimo gira em torno de 200 miligramas por dia, se você aprecia de duas a três porções de pescados ricos em ômega-3 durante a semana, já supriria a meta. A suplementação é preconizada quando esse consumo é insuficiente, algo comum no Brasil, uma vez que nossa população come muito pouco peixe. Essa falta de hábito, aliás, repercute na baixíssima concentração de DHA que vai para o leite materno, como mostra um levantamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Após avaliar amostras de 47 lactantes, os especialistas desvendaram que o teor da substância não passava de 0,09%, um dos menores do planeta. É um dado preocupante, visto que, nos primeiros seis meses de vida, o leite materno deveria ser o alimento exclusivo da criança.

Considerando esse déficit de fontes naturais de DHA na dieta, pode passar pela cabeça dos pais que a solução é recorrer direto às cápsulas. Até pouco tempo, as versões disponíveis no mercado nacional traziam, proporcionalmente, pouco DHA em comparação com outros tipos de ômega-3. Felizmente, já estão chegando às farmácias produtos que atendem às necessidades específicas das gestantes e lactantes. A vantagem do suplemento seria driblar elementos tóxicos que podem vir escondidos na carne de pescados como salmão e atum. "Prezamos a alimentação antes das cápsulas, mas, sobretudo na gravidez, há o risco de se consumir peixe contaminado com mercúrio, que pode provocar alterações no cérebro do feto", alerta o pediatra e nutrólogo Mário Falcão, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e um dos autores do consenso.
  Falcão conta que ainda é restrito o número de obstetras que abordam o assunto nas consultas de pré-natal. "Fizemos uma pesquisa em consultórios de classe A e descobrimos que só 15% dos profissionais recomendam o DHA. Temos a missão de levar esse conhecimento para a classe médica", afirma. A expectativa é que o documento desperte a atenção dos especialistas e repercuta nas orientações às futuras mamães. Quem ganhará com isso é a nova geração de bebês que vem por aí.

DE MÃE PARA FILHO
Como o DHA consumido pela gestante reverbera no organismo do bebê?

1 - A VIAGEM COMEÇA PELA BOCA...
... da grávida, claro, que ingere o DHA via alimentação ou suplementação. Depois de absorvida pelo sistema digestivo, essa gordura passa pelo fígado para ser, em seguida, distribuída pelo corpo. Durante a gestação a prioridade de destino é o bebê. Todo o DHA consumido é transportado primeiro para o feto e chega a ele por meio da placenta.

2 - E TERMINA LÁ NO CÉREBRO...
... do bebê. Uma vez no organismo do feto, o DHA ajuda a formar a membrana das células nervosas. Ele é um dos componentes da bainha de mielina, camada de gordura que reveste a cauda dos neurônios. Só assim, protegidas e bem constituídas, essas células fazem as sinapses e estabelecem as redes de conexão essenciais ao desenvolvimento das funções motoras e cognitivas.

IMPACTO NA CABEÇA E EM OUTROS CANTOS
Cientistas apuram como o DHA beneficiaria a saúde da criançada

CUCA ESPERTA:
Estudiosos noruegueses já demonstraram que a suplementação de DHA durante a gestação tem efeito positivo sobre o desenvolvimento mental da criança quando ela alcança a idade pré-escolar. E há sinais, ainda controversos, de que o nutriente elevaria a capacidade de concentração e leitura da garotada.

VISÃO E IMUNIDADE:
O DHA presta serviço à retina, tecido do fundo do olho que converte as imagens em impulsos elétricos, já que ela também é constituída de células nervosas. Novos artigos sinalizam que o nutriente também aperfeiçoa o sistema imune da criança e diminui a ocorrência de quadros alérgicos.

Nayara Souto Maior e Valdemir Soares


Nayara Souto Maior - Farmacêutica Generalista, Pós-Graduanda em Gestão e Tecnologia Industrial Farmacêutica, atua como Farmacêutica Magistral.

Valdemir Soares - Farmacêutico Generalista e empresário do ramo automotivo.

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