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COLESTEROL: AS TAXAS-LIMITE MUDARAM!

As metas mudaram, e ficaram ainda mais rígidas. Nova diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia derruba as taxas-limite e inclui outros pontos de alerta. Entenda o impacto disso na sua vida e como a ciência promete ajudar.

  A previsão é de tempo fechado para o coração dos brasileiros: segundo uma projeção da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, vamos liderar até 2040 o ranking de novos casos de problemas cardiovascular per capita no planeta. Vislumbra-se um aumento de 250% no número de infartos, derrames e afins por aqui - e as mulheres já sofrerão mais piripaques do que os homens. "Por essa estimativa, nosso cenário seria pior do que o de outros países em desenvolvimento. É um reflexo, na verdade, das mudanças econômicas e no estilo de vida da população, mais urbana, sedentária, obesa e diabética", analisa o cardiologista Raul Dias dos Santos, professor da Universidade de São Paulo.

  Não é preciso melhor justificativa, por tanto, para a 5ª Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção de Aterosclerose, documento recém-apresentado aos médicos pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que vem reduzir ainda mais os limites saudáveis de colesterol, o principal fator de risco para as artérias passível de controle com ajustes de hábito e medicação. "Com esses novos limites, estamos mais avançados que os americanos e europeus na forma de identificar pessoas com maior probabilidade de ter um evento cardiovascular", diz o cardiologista Hermes Toros Xavier, presidente do Departamento de Aterosclerose da SBC e editor da diretriz, que, baseada em centenas de estudos, consumiu 14 meses de trabalho envolvendo 19 especialistas.

  Pessoas com alto risco cardíaco - quem não sente nada, mas tem presença confirmada de placas nos vasos, por exemplo - não podem ultrapassar a marca de 70 mg/dl de LDL-colesterol, o popular colesterol ruim. Antes se tolerava, dependendo do grau do entupimento, até 100. Já indivíduos em risco intermediário - como um hipertenso sedentário - não deverão ter taxas acima de 100 mg/dl, sendo que, pela última diretriz, podiam ficar até nos 130. "Essa rigidez busca minimizar o impacto das doenças cardiovasculares nas próximas décadas, considerando o panorama que temos pela frente", arremata o cardiologista Carlos Magalhães, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.

A HUMANIDADE SEGUNDO O RISCO CARDIOVASCULAR
Os médicos devem avaliar direito essa probabilidade para apontar as metas individuais de colesterol

RISCO ALTO
Pertencem a esse grupo pessoas que já infartaram ou tiveram derrame, que já passaram por uma cirurgia ou de ponte de safena ou angioplastia, apresentaram angina (aquela dor no peito) ou placas nas artérias detectadas por exames, possuem diabete, doença renal crônica ou hipercolesterolemia familiar - condição genética que catapulta os níveis de colesterol ruim no sangue.

RISCO MÉDIO
Para computar todos os fatores nocivos aos vasos, os médicos lançam mão de questionários. O principal modelo é o escore de Framinghan, que mensura a possibilidade de infartar, ter AVC, entupimento nas pernas ou insuficiência cardíaca levando em conta idade, tabagismo, presença de hipertensão, colesterol elevado... Um indivíduo acima de 50 anos com pressão alta, mesmo sob controle, já teria risco intermediário.

RISCO BAIXO
Quando a avaliação clínica somada a exames, identifica pouquíssimas condições ameaçadoras ao peito, o sujeito está mais protegido, mas nunca totalmente, contra ataques cardíacos - e mesmo alguém um pouco acima do peso pode entrar nessa turma. Não significa que está livre para relaxar e se entregar ao sedentarismo. Se a pressão ou a glicose subir, já muda a posição na escala de risco.

A NOVA MATEMÁTICA DO COLESTEROL
Saiba como ficam as taxas-limite segundo a última diretriz brasileira
HDL-colesterol
HDL é o antagonista do LDL: é a molécula que retira o excedente de colesterol dos vasos. Nas diretrizes antigas, se estipulava que o HDL-colesterol deveria ser maior que 40 mg/dl para homens e acima de 50 mg/dl para mulheres. O novo documento não fala em valores específicos. Não é desejável ter níveis baixos, mas hoje se acredita que elevar o HDL não é indício inconteste de maior blindagem cardíaca.

Colesterol não-HDL
Menos conhecida, essa fração corresponde a toda partícula carregada de gordura capaz de favorecer o entupimento das artérias. Não entra só o LDL: há moléculas menos maduras, caso do VLDL e do IDL, que também podem colaborar com placas. De quebra, a medida do colesterol não-HDL permite inferir a carga de triglicérides.
  A diretriz da SBC se apoia em escalas de risco para apontar as metas de colesterol de cada grupo e propõe que, de acordo com a necessidade, sejam prescritos alguns exames para esclarecer qual o perfil do paciente. "Além de mais agressivo quanto ao colesterol, o documento é mais sensível e maleável, porque ajuda a discernir melhor se uma pessoa de risco intermediário mereceria ser enquadrada como alto risco", avalia Santos. Dado o recado do professor, dá para se debruçar melhor sobre a nova matemática do colesterol. A peça-chave na equação é o famigerado LDL-colesterol, aquele que se deposita na parede dos vasos. "Controlar seus níveis é a meta primária da diretriz, ou seja, o objetivo central na prevenção e no tratamento da aterosclerose, a formação de placas nas artérias", enfatiza Xavier. Uma das justificativas para essa propriedade vem de uma revisão de estudos publicada na revista médica The Lancet em 2010. Reunindo dados de 170 mil pessoas mundo afora, o trabalho mostrou uma associação direta entre a redução do LDL e a queda na mortalidade por infarto.

  Ok, mas só devemos mirar essa fração do colesterol? E o HDL, o tal do colesterol bom... caiu no ostracismo? Pois é, a tendência lá fora confirmada pelos mandamentos da SBC é um certo desprestígio para a molécula associada à limpeza dos vasos. "Não há dúvidas de que, quando as taxas de HDL estão baixas, há maior risco cardiovascular. No entanto, faltam evidências de que níveis muito altos resultem em maior proteção", esclarece o cardiologista Carlos Alberto Machado, diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da SBC.

  Mas, antes que você pense que o destino dos vasos depende única e exclusivamente do LDL, convém botar outra meta nessa história: a SBC definiu valores para o que chama de colesterol não-HDL. Em vez de focar no total circulante, a ideia é dar um olhar mais abrangente em toda e qualquer partícula gordurosa capaz de semear uma placa dentro das artérias. A regra é simples: se o seu LDL tem de ficar no máximo em 100 mg/dl, o não-HDL poderá chegar a 130... Ou seja, é sempre 30 a mais que o LDL. "Essa medida flagra outras moléculas que participam do entupimento dos vasos e dá uma indicação de como andam os níveis de triglicérides", explica Santos.

NO CORAÇÃO DA FAMÍLIA
  Nem só de números e siglas vive uma cartilha médica. "A SBC aproveitou a ocasião para valorizar a importância de antecedente familiar de doenças cardiovasculares", ressalta Machado. Ter um parente de primeiro grau que sofreu um ataque cardíaco antes dos 55 anos - ou do sexo feminino que teve o problema antes do 65 - é motivo para redobrar a atenção. Sim, a genética faz diferença: para o bem ou para o mal. "Isso deveria ser levado em consideração, aliás, desde a infância", diz a cardiologista Tânia Martinez, do Instituto do Coração de São Paulo.
  É, já falando em quem cuida pra valer da família, o manual reforça a necessidade de as mulheres darem mais valor à saúde cardíaca. "Historicamente elas tiveram seu risco subestimado, e isso mudou ainda mais nas últimas décadas em função do excesso de peso, do cigarro e do estresse", diz Xavier. Tanto é que, na incidência de infarto, já começam a empatar com os homens. "As doenças cardiovasculares matam hoje quatro vezes mais mulheres que o câncer de mama" ressalta Magalhães.
OS AGRAVANTES DE RISCO - A SBC elencou alguns critérios que ajudam o médico a distinguir melhor em que perfil o paciente se encontra. Além do histórico familiar e da medida da cintura, seria uma boa realizar, dentro de determinados contextos, alguns exames para se certificar se o risco não seria maior do que o esperado. Estão na lista a dosagem da proteína C-reativa, um marcador de inflamação, a tomografia do coração e a avaliação das carótidas, as artérias do pescoço.
  Sejamos realistas: metas mais rígidas apontam para uma maior dificuldade em alcançar os níveis preconizados de colesterol só com mudanças no estilo de vida. E fica óbvio que a nova diretriz deve aumentar a demanda pelas estatinas, os remédios que controlam as taxas. Todos os experts concordam que os comprimidos são, com poucas situações de exceção, seguros e eficazes. "Os maiores estudos a respeito concluem que os benefícios superam os riscos e já se discute lá fora até prescrever o medicamento para todos acima de 50 anos", contextualiza Santos. "Há indícios de que, além de prevenir, essas drogas auxiliam a regredir a aterosclerose", pontua o cardiologista Evandro Tinoco Mesquita, da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro. 

  É claro, as estatinas não são uma unanimidade: em algumas pessoas, elas patrocinam o diabete e provocam dores musculares. Há pistas, porém, de que a última geração do remédio disponível no país dispare menos efeitos adversos, como alterações na glicemia. Só que outra questão preocupa: a adesão ao tratamento. "Cerca de 70% dos brasileiros com essa prescrição não domam as taxas de colesterol porque não tomam as estatinas direito", diz o cardiologista Marcelo Bertolami, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo. Pensando em ampliar a adesão e a resposta ao tratamento, centros de pesquisa e laboratórios já buscam outras opções terapêuticas, destinadas, em um primeiro momento àqueles quadros mais severos. Veja só: tem até anticorpo monoclonal desbravando as artérias. É claro que, por mais expressivos que sejam os avanços, não bastará se entupir de medicamentos e se deixar levar pela preguiça e pela dieta cheia de gordura e açúcar. Hábitos saudáveis, como orienta a quinta diretriz da SBC, continuam tendo seu papel no controle do colesterol. E, com limites tão rigorosos, toda ajuda - da meia hora diária na esteira à moderação nas gemas de ovo - será bem-vinda.
PROMESSAS EM DEFESA DO CORAÇÃO!
Apresentamos quatro tratamentos que pretendem facilitar a vida de quem precisa baixar pra valer o colesterol.
ÚLTIMA GERAÇÃO DE ESTATINAS
  O medicamento está entre os mais receitados do mundo e, a despeito de controvérsias, tem sido aprovado por grandes estudos. Atua no fígado cortando a linha de produção do colesterol - 70% da molécula é fabricada pelo organismo. A safra mais recente, a pitavastatina, provocaria menos reações adversas e estaria menos relacionada ao diabete.
 ANTICORPO MONOCLONAL
Como um míssil teleguiado, a droga inibe uma proteína que degrada os receptores de LDL-colesterol nas células do fígado. Aumentando o número de receptores, temos mais colesterol sendo tirado da circulação. Em fase de testes, o medicamento é injetado a cada 15 dias e baixa em até 60% o colesterol ruim - mas não dispensa a estatina.

POLIPÍLULA
Em um único comprimido se combinam fármacos para pressão alta, fluidez do sangue e colesterol alto. O medicamento está na fase final de testes na população - há experimentos inclusive no Brasil. Sua vantagem seria a adesão ao tratamento: em um gole d'água se resolve tudo. O senão é o ajuste nas doses dos fármacos que podem variar de pessoa para pessoa.

HDL SINTÉTICO
Algumas indústrias farmacêuticas investem em medicamentos que elevam a fração boa do colesterol, embora, até o momento, os resultados não sejam muito animadores. Há uma linha de pesquisa, porém, focada em injeções de HDL sintético, com moléculas pequenas e mais aptas a limpar as artérias. O problema é que o tratamento seria bastante caro.

Fonte
Saúde é Vital - Abril. Por: Diogo Sponchiato e Regina Célia Pereira.



Nayara Souto Maior e Valdemir Soares


Nayara Souto Maior - Farmacêutica Generalista, Pós-Graduanda em Gestão e Tecnologia Industrial Farmacêutica, atua como Farmacêutica Magistral.

Valdemir Soares - Farmacêutico Generalista e empresário do ramo automotivo.

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