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PÍLULAS CONTRA O CÂNCER


Desde 2 de janeiro deste ano, os cerca de 42,5 milhões de brasileiros com planos de assistência médica ganharam acesso a 37 remédios de uso oral para combater diversos tumores, caso venham a precisar deles, claro.
  A novidade faz parte de uma resolução normativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Trata-se, em resumo, de uma atualização da lista de procedimentos de cobertura obrigatória por parte das seguradoras. "Dentre as mudanças, um dos grandes destaques é a inclusão desses medicamentos", reconhece a epidemiologista Karla Coelho, gerente de assistência à saúde da ANS.

  Cá entre nós, a medida já era uma necessidade. Até porque de 25 a 40% dos novos fármacos desenvolvidos para arrasar tumores vêm em formato de cápsula. "É um arsenal importante e que precisa estar disponível para todos. A evolução caminha, sim, em direção às terapias orais", assegura Paulo Marcelo Hoff, diretor-geral do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Observe, por exemplo, o caso da droga sorafenibe. Capaz de inibir o surgimento de vasos sanguíneos ao redor do câncer, estratégia que, digamos, mata o inimigo de fome. Ela é simplesmente mais eficaz para exterminar tumores de fígado e rim do que as opções administradas na veia.

  "Há outras pílulas, voltadas para diferentes tipos da doença, em que a vantagem está no fato de serem menos agressivas ao corpo", completa Stephen Stefani, oncologista do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus, no Rio Grande do Sul. E também existem aqueles remédios orais que, considerando a eficiência e a segurança, se equiparam aos endovenosos. Alí, o ponto positivo é que ganhamos mais alternativas para atacar um mal conhecido por, com o tempo, criar resistência diante das bombas que o agridem. Ora, se uma opção deixa de funcionar, o especialista tem à sua disposição outro recurso para aniquilar o oponente por uma via secundária.
  Os comprimidos contra tumores, chamados pelos médicos de antineoplásicos orais, também oferecem mais conforto a quem os usa. "Claro que várias vezes o paciente terá de associar essas medicações à terapia convencional, mas elas costumam ao menos diminuir o número de idas ao ambulatório", lembra Stefani. Além disso, para tomar uma cápsula qualquer, você não é submetido a processos incômodos, como a instalação de um cateter, algo comum quando se recebe um fármaco pra lá de tóxico na veia.

QUEM PAGA A CONTA?
Antes de as operadoras serem obrigadas a cobrir os antineoplásicos orais, que custam até 30 mil reais ao mês por pessoa, vários pacientes entravam na Justiça contra o governo para ter o direito de usá-los sem esvaziarem os próprios bolsos. E ele, como perdia causas com frequência, era forçado a pagar os remédios, endividando o setor público. "A resolução da ANS desafogou o Sistema Único de Saúde (SUS), porque tais custos passam a ser assimilados pelas instituições privadas" diz Stephen Stefani, do Hospital Mãe de Deus. O desafio, agora, é oferecer os comprimidos no SUS. "O preço das drogas para o câncer precisa ser freado. Se seguirmos com custos tão altos, a conta uma hora não fechará", arremata Paulo Hoff, do Hospital Sírio-Libanês.

EM NOME DA SEGURANÇA
Cinco tópicos que merecem toda a atenção de quem vai utilizar cápsulas para debelar um câncer.

DOSE
Expressões como "mais ou menos" ou "cerca de" não existem na hora de tomar um antineoplásico oral. As medidas devem ser exatas para atacar a doença sem agredir demais seu organismo. Outra coisa: deixe tudo anotado por escrito para evitar ao máximo as confusões.

HORÁRIO
Quem é diagnosticado com câncer não raro recebe um verdadeiro coquetel de princípios ativos. Portanto, para escapar de interações medicamentosas indesejadas, é vital respeitar o momento exato de tomar cada cápsula.

REAÇÕES
Determinados efeitos adversos são comuns ao enfrentar um tumor, hoje, há saídas capazes de aplacá-los. Entretanto, sensações muito intensas ou inesperadas não podem passar em branco. O ideal é reportá-las para acertar o rumo da terapia.

ARMAZENAMENTO
Siga com afinco as instruções sobre como guardar corretamente a medicação utilizada. Algumas estragam se ficam expostas ao sol. Fora isso, mantenha a embalagem longe do alcance das crianças, a ingestão acidental é perigosíssima nessa faixa etária.

DESCARTE
Nada de guardar as eventuais pilulas que sobraram ao fim do tratamento ou jogá-las no lixo de casa. Em vez disso, entregue-as no local onde as pegou. Lá, os profissionais saberão o que fazer para não prejudicar o ambiente. Por serem tóxicas, elas podem contaminar a água e o solo.

  Sabe-se que indivíduos que se sentem protagonistas do próprio tratamento também têm uma maior chance de superar seu problema de saúde. "O paciente com câncer que se organiza para tomar o remédio na hora certa e na quantidade adequada tem a sensação de que participa mais de sua recuperação em comparação com quem apenas espera um ambulatório enquanto recebe doses de um quimioterápico na veia", atesta Hoff.
  Ao mesmo tempo que acarreta esse benefício, a maior autonomia das pessoas acometidas por um tumor implica um desafio: o de seguir, sem errar, todas as indicações dos profissionais. "Apesar de virem na forma de comprimidos, essas drogas não são leves. Muitas geram efeitos colaterais significativos e, se tomadas na dose, na frequência ou no horário errados, têm potencial para provocar consequências catastróficas", reforça Stefani.

  Olha só que curioso: como caem no sistema gastrointestinal antes de acessar a circulação, os antineoplásicos orais sofrem influência até do que comemos. Daí por que alguns devem ser ingeridos em jejum e outros, depois das refeições. Se isso é desconsiderado,  o tiro não acerta o alvo com máxima potência ou as reações adversas ficam tão intensas que ameaçam o organismo. Logo, a primeira regra ao receber esse tipo de tratamento é tirar qualquer dúvida com o médico. Se as indagações, por mais bobas que pareçam, surgirem depois da consulta, não hesite em ligar para ele, mesmo porque os experts também estão se adaptando a essa realidade.
  Após analisar as prescrições de quimioterápicos orais de 157 oncologistas, pesquisadores do Instituto de Cancerologia Lucien Neuwirth, na França, notaram que 46,5% das receitas não possuíam quaisquer informações sobre a dose. "Isso é preocupante. Recomendamos fortemente anotar o protocolo terapêutico inteiro para minimizar os erros", alerta o clínico Aurélie Bourmaud, um dos autores da pesquisa. Claro que esses dados podem ser diferentes no Brasil, mas não custa pedir ao doutor para escrever, em detalhes, como colocar esses medicamentos para dentro do corpo de maneira mais segura possível.

DO COMEÇO AO FIM
No estudo francês, 23% dos oncologistas admitiram não adotar nenhuma tática para monitorar a adesão dos pacientes ao tratamento. "Por outro lado, participei de um trabalho nos Estados Unidos no qual observamos que 80% dos voluntários se guiam nossas recomendações direitinho", conta Hoff. "O comprometimento para vencer esse mal tende a ser alto", conclui. De qualquer jeito, os especialistas lançam mão de procedimentos simples, como contar a quantidade de drágeas tomadas pelo doente por determinado período para verificar se ele está seguindo as orientações à risca. Aliás, atitudes assim podem ser adotadas pela vítima do tumor para que ela se mantenha na linha. Como atenção e disciplina, os comprimidos são um reforço e tanto na luta por uma vida confortável, e livre do câncer.

DESAFIOS DA FABRICAÇÃO
O primeiro quimioterápico foi criado na década de 1940. Por que, então, só mais recentemente apareceram as versões em cápsulas? "Um princípio ativo, quando ingerido, precisa lidar com a acidez do estômago e ser absorvido pelo intestino antes de ganhar acesso ao tumor", diz José Alexandre Marzagão Barbuto, imunologista do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. E há muita tecnologia por trás de cada uma dessas etapas, em especial se pensarmos que as armas que golpeiam um câncer às vezes são bem tóxicas. "Isso sem conter que é bem custoso desenvolver uma droga dessas", completa Stefani.

Nayara Souto Maior e Valdemir Soares


Nayara Souto Maior - Farmacêutica Generalista, Pós-Graduanda em Gestão e Tecnologia Industrial Farmacêutica, atua como Farmacêutica Magistral.

Valdemir Soares - Farmacêutico Generalista e empresário do ramo automotivo.

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