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PELLETS: VAMOS ENTENDER MELHOR?

Dentre as diversas formas farmacêuticas sólidas, destinadas à administração oral, estão incluídos os pellets. As formas farmacêuticas peletizadas datam dos anos 50, quando o primeiro produto foi introduzido no mercado.

O interesse por fármacos veiculados na forma de pellets tem crescido devido às vantagens tecnológicas e terapêuticas proporcionadas por esta forma. Destacam-se a possibilidade de obtenção de sistemas de liberação imediata ou modificada (liberação entérica, liberação prolongada) através do revestimento por película na sua superfície ou a presença de sistemas matriciais em sua composição; ótimas propriedades de escoamento (fluxo livre) devido, principalmente, a seu formato esférico e estreita distribuição do tamanho das partículas.

Além disso, pellets de substâncias incompatíveis (formuladas em pellets separados) podem ser combinados em uma mesma unidade medicamentosa (ex. em uma mesma cápsula), bem como também podem ser combinados pellets de uma mesma substância com diferentes perfis de liberação. Os pellets são normalmente empregados no enchimento de cápsulas duras e podem também ser aplicados na fabricação de comprimidos.

Os pellets são obtidos por um processo tecnológico de produção denominadopeletização, o qual consiste na aglomeração, por via úmida , de pós finos de substância(s) ativa(s) e excipientes em pequenas unidades esféricas. Os pellets diferenciam-se dos granulados clássicos tanto pelo seu processo de obtenção como também por suas características físicas. O processo de peletização consiste, basicamente, na mistura prévia de pós (ingredientes ativos + excipientes), seguido pela malaxagem (obtenção de uma massa úmida por adição de líquido e amassamento), extrusão (compactação da massa umidificada em forma de cilindros de diâmetro uniforme com aspecto semelhante a um "espaguete"),esferonização (processamento dos cilindros obtidos por extrusão até obtenção de uma forma esférica de diâmetro apropriado) e secagem (secagem dos pelletsobtidos na fase de esferonização).

FATORES QUE INFLUENCIAM NAS CARACTERÍSTICAS E QUALIDADE DOS PELLETS:
Diversos fatores relacionados à matéria-prima (adjuvantes e excipientes utilizados na produção dos pellets) e aos processos envolvidos na peletização influenciam diretamente nas características físicas, desempenho e qualidade dos pellets.


QUALIDADE DOS PELLETS E SUA INFLUÊNCIA NA FORMULAÇÃO
A eficácia terapêutica do medicamento manipulado pode estar diretamente ligada à qualidade dos pellets empregados em sua preparação. O interesse crescente pelospellets torna mais importante ainda a avaliação e caracterização das multi-unidades de pellets, empregadas no preparo de medicamentos. Como relacionamos anteriormente, diversos fatores relacionados à composição da formulação e processo de produção de pellets podem afetar a qualidade e a performance de medicamentos preparados a partir destas multi-unidades. Portanto, somente através da avaliação dos parâmetros de liberação (ex: dissolução, gastroresistência) - é que é possível aprovar seu uso em formulações.

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS PELLETS
O tamanho dos pellets influencia diretamente a área superficial, impactando diretamente na dissolução e biodisponibilidade do fármaco veiculado (> tamanho>velocidade de dissolução). O ideal é que haja uma distribuição uniforme do tamanho entre as multi-unidades de pellets. A distribuição uniforme de tamanho facilita a mistura de pellets de lotes diferentes ou de diferente composição (ex: pellets inertes), influenciando sobremaneira o enchimento de cápsulas. Sistemas dosadores utilizados para o preenchimento de cápsulas duras com pellets precisam ser calibrados em função do tamanho dos pellets e da concentração de ingrediente ativo presente nesse. A distribuição não-uniforme do tamanho de pellets promove uma consequente variação do conteúdo de substância ativa, bem como a varicações de biodisponibilidade. A variação de tamanho entre as multi-unidades interfere também no revestimento dos pellets por filmes poliméricos, devido à relação direta da área superficial com a quantidade de material de revestimento necessária para a cobertura completa e uniforme das multi-unidades. A determinação da distribuição de tamanho pode ser realizada por diferentes métodos, como a tamisação, microscopia (óptica ou eletrônica) e a análise por imagens.

Forma ou Estericidade: A forma esférica dos pellets favorece a aplicação da película de revestimento. Portanto, os pellets com superfície sem a presença de imperfeições, apresentando uma forma esférica próxima da perfeição favorecem a aplicação e a performance do revestimento. Além disso, a forma esférica otimiza as propriedades de empacotamento e escoamento (fluxo) dos pellets, impactando diretamente no processo de enchimento das cápsulas. Altas variações na morfologia superficial e esfericidade entre as multi-unidades de um determinado lote de pellets, podem levar a variações de conteúdo significativas e indesejáveis em cápsulas. (Figura2)


CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO DOS PELLETS
Uma vez que as formas farmacêuticas peletizadas vêm ganhando popularidade devido a suas vantagens distintas, como a facilidade de preenchimento em cápsulas, aumento da dissolução do fármaco e a facilidade de revestimento para obter formas de liberação sustentada, controlada ou de liberação sítio-específica no trato gastrintestinal. Diversos fármacos veiculados na forma de pellets estão disponíveis em sistemas de liberação modificada. Portanto, a avaliação analítica do perfil de liberação do fármaco a partir de pellets revestidos ou contendo sistemas matriciais é importante para garantir o desempenho das formas farmacêuticas preparadas a partir destas multi-unidades. Por exemplo, é recomendável a determinação da gastroresistência em pellets de liberação entérica ou do perfil de dissolução em pellets de liberação controlada.

PREENCHIMENTO DE CÁPSULAS COM PELLETS
Na farmácia, o preenchimento de cápsulas duras com pellets é realizado vertendo individualmente a quantidade de pellets correspondente a dose prescrita em cada unidade de cápsula ou, então, utilizando dosadores calibrados em função do volume ocupado por doses posológicas usualmente empregadas. Estes dosadores levam em conta também a concentração do fármaco no pellet. Os dosadores valem-se da força gravitacional para o escoamento dos pellets para o preenchimento do corpo das cápsulas. Os dosadores apresentam como vantagem a obtenção de maior agilidade no processo de preenchimento de cápsulas com pellets, uma vez que possibilitam o preenchimento de várias cápsulas simultaneamente.


PASSO-A-PASSO PARA PREENCHIMENTO INDIVIDUAL DE CÁPSULAS COM PELLETS
  1. Calcular a quantidade total de pellets a ser pesada, considerando a dosagem prescrita, a concentração do fármaco presente no lote utilizado e a aplicação do fator de correção correspondente.
  2. Preencher a placa encapsuladora com o número e tamanho de cápsulas duras vazias em função da dose e da quantidade solicitada na prescrição. Separar a tampa do corpo da cápsula, ajustando o nível da placa para iniciar o processo de preenchimento.
  3. Pesar individualmente a quantidade requisitada para o preenchimento de cada cápsula.
  4. Preencher cada cápsula com a quantidade pesada de pellets.
  5. Mover os bastões reguladores, ajustando o nível da placa para a posição de travamento.
  6. Reconectar a tampa ao corpo da cápsula
  7. Realizar o travamento da tampa ao corpo da cápsula, exercendo uma pressão com a palma da mão (encapsulador manual) ou com sistema de travamento (encapsulador semi-automático ou automático). A pressão não deverá ser exercida em excesso, pois existe o risco de se deformar a cápsula.
  8. Envasar e Rotular.

FONTE:
1. Santos, H.M.M.; Veiga, F.J.B.; Pina, M.E.T. & Simões de Sousa, J.J.M. Obtenção de pellets por extrusão e esferonização farmacêutica. Parte I. Avaliação das variáveis tecnológicas e de formulação. Rev. Bras. Cienc. Farm. (Braz. J. Pharm.Sci.). vol.40, n.4, out/dez., 2004.
2. Santos, H.M.M.; Veiga, F.J.B.; Pina, M.E.T. & Simões de Sousa, J.J.M. Obtenção de pellets por extrusão e esferonização farmacêutica. Parte II. Avaliação das variáveis tecnológicas e de formulação. Rev. Bras. Cienc. Farm. (Braz. J. Pharm.Sci.). vol.42, n.3, jul/set., 2006.
3. Trivedi NR, Rajan MG, Johnson JR, Shukla AJ. Pharmaceutical approaches to preparing pelletized dosage forms using the extrusion-spheronization process. Crit Rev Ther Drug Carrier Syst. 2007;24(1):1-40

Nayara Souto Maior e Valdemir Soares


Nayara Souto Maior - Farmacêutica Generalista, Pós-Graduanda em Gestão e Tecnologia Industrial Farmacêutica, atua como Farmacêutica Magistral.

Valdemir Soares - Farmacêutico Generalista e empresário do ramo automotivo.

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