PHARMAGISTRAL

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VITAMINA D - APLICAÇÕES, ASPECTOS FARMACOLÓGICOS E FARMACOTÉCNICOS

ATUALMENTE ESTÁ EM AMPLA DIVULGAÇÃO OS BENEFÍCIOS DA VITAMINA D. EM DECORRÊNCIA DISSO, OBSERVA-SE UM AUMENTO NA PROCURA DE FORMULAÇÕES CONTENDO ESSA SUBSTÂNCIA. ESTA POSTAGEM TEM COMO PRINCIPAL OBJETIVO DISPONIBILIZAR INFORMAÇÕES ÚTEIS E APLICÁVEIS AO SETOR MAGISTRAL, QUE ENVOLVEM DESDE A DEFINIÇÃO E DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE VITAMINAS D ATÉ AS APLICAÇÕES E USOS, FORMAS FARMACÊUTICAS POSSÍVEIS, CUIDADOS FARMACOTÉCNICOS E RESPONSABILIDADES NA AVALIAÇÃO DA PRESCRIÇÃO.
DESCRIÇÃO:
  O termo vitamina D é usado para um grupo de compostos esteroides intimamente relacionados que inclui: alfacalcidol, calcitriol, colecalciferol, ergocalciferol, entre outros.

FONTES DE VITAMINA D:
  A maior fonte de vitamina D é a exposição solar à radiação UVB. São poucos os alimentos considerados fontes ricas deste nutriente, sendo os principais: óleo de peixe (salmão, cavala, arenque) e óleo de fígado de peixe (bacalhau). Um estudo recente demonstra que o salmão selvagem tem em média 500 a 1000 UI de vitamina D em cada 100g, enquanto o salmão criado em fazendas de peixe contem 100 a 250 UI em cada 100g. Isto ocorre porque a vitamina D é farta na cadeia alimentar natural, mas escassa na ração dietética das criações. Outros alimentos têm quantidades ainda inferiores de vitamina D como: manteiga, ovos e fígado.
  Nos Estados Unidos, leite, sucos de frutas, pães, iogurtes e queijos são enriquecidos com vitamina D. Os polivitamínicos e suplementos estão disponíveis com quantidade variáveis de vitamina D.
  A forma disponível nos EUA é a vitamina D2. No Canadá, Europa, Japão e Índia é a vitamina D3 que está disponível como medicamento.

PRINCIPAIS FORMAS FARMACÊUTICAS:
CALCITRIOL
1,25-Dihidroxicolecalciferol; 1α, 25-Dihidroxicolecalciferol; 1α, 25-DihidroxivitaminaD3; 1α, 25 (OH)2D3
C27H44O3 = 416.6.
CAS - 32222-06-3 (anidra); 77326-95-5 (monohidratada).

  Forma biologicamente ativa de vitamina D. No Brasil, somente temos essa forma como produto final (não disponível como insumo).

COLECALCIFEROL
Vitamina D3
C27H44O = 384.6.
CAS - 67-97-0.

Forma de vitamina D de ocorrência natural. Produzida a partir do 7-dehidrocolesterol, um esteroide presente na pele dos mamíferos, na presença de radiação UV. Esta é a forma mais comumente comercializada no Brasil.

ERGOCALCIFEROL
Calciferol; Viosterol; Vitamina D2.
C28H44O = 396.6.
CAS - 50-14-6.

  É uma substância obtida do ergosterol, um esteroide presente em fungos e leveduras através da radiação UV. Esta forma também é comercializada no Brasil. São produzidas também formas concentradas em pó ou oleosas, mas atualmente essas formas são comercializadas como insumo no Brasil.

Segundo a BP 2008, para uma prescrição ou demanda de calciferol ou vitamina D, deve ser dispensado ou fornecido colecalciferol ou ergocalciferol.

  É importante destacar as informações sobre a solubilidade, lembrando que os derivados de vitamina D são, de forma geral, insolúveis em água, solúveis em etanol e em óleos vegetais fixos. Com relação às condições de armazenamento e estocagem, os derivados de vitamina D são sensíveis à luz, calor e ao ar. Devem permanecer em embalagens hermeticamente fechadas, preferencialmente em atmosfera de nitrogênio, protegidos da luz e em temperatura entre 2 e 8ºC.

VITAMINA D2 OU D3 - QUAL A IDEAL?
  Pelo que já foi até aqui exposto, sabemos que atualmente muitas organizações de saúde e consensos governamentais ou não-governamentais, pelo mundo, indicam a ingestão de suplementos de vitamina D para suprir sua defici~encia e os riscos envolvidos para a saúde dos seres humanos, entretanto não se delineou as diferenças existentes entre as principais formas: vitamina D2 (ERGOCALCIFEROL) e vitamina D3 (COLECALCIFEROL).
  Tradicionalmente, tem sido atribuída às formulações orais de vitamina D2 ou D3 equivalente atividade clínica. Porém, estudos indicam que vitamina D2 (ergocalciferol) é muito menos potente e tem duração de ação mais curta do que a vitamina D3 (colecalciferol). É mais difícil elevar os níveis de 25-hidroxivitamina D sérica com ergocalciferol, quando comparado com colecalciferol em pacientes com deficiência severa de vitamina D. Aparentemente, a potência do ergocalciferol e corresponde a menos de 30% da potência do colecalciferol e tem duração de ação pronunciadamente mais curta.

  Pequenas diferenças químicas entre colecalciferol e ergocalciferol levam a produção de diferentes metabólitos. Colecalciferol parece elevar a concentração sérica de vitamina D de forma mais eficiente do que o ergocalciferol, provavelmente devido a maior afinidade desse pelas enzimas hepáticas, proteína de ligação plasmática e seus metabólitos. Deste modo, 50.000 UI de ergocalciferol seriam equivalentes a 15.000 UI de colecalciferol. Essas diferenças e não equivalências podem confundir as faixas de dosagens ideais recomendadas. Assim, mesmo o ergocalciferol sendo efetivo na suplementação de vitamina D, a diferença na potência sugere que o colecalciferol deve ser a forma preferencialmente utilizada de vitamina D.
  Portanto, vitamina D2 e vitamina D3 não são bioequivalentes e não podem ser consideradas intercambiáveis. Baseado nos estudos de farmacocinética, e nas evidências clínicas, colecalciferol deve ser preferido em relação ao ergocalciferol.

UNIDADES E EQUIVALÊNCIAS:
  As farmacopeias consideram que 1mg de colecalciferol ou ergocalciferol equivalem a 40.000 UI de vitamina D.

FARMACOCINÉTICA:
  A síntese cutânea é a principal fonte de vitamina D. Através da exposição à radiação solar UVB, a provitamina D3 (7-deidrocolesterol) existente na pele é convertida a pré-vitamina D3. Essa sofre isomerização para uma forma mais estável, via uma transformação termo induzida.
  Quando utilizados na forma de suplementos nutricionais, a vitamina D e seus derivados são bem absorvidos pelo trato gastrointestinal (GI). A presença da bile é essencial para a absorção intestinal adequada. Lembrando que, a absorção é prejudicada nas pessoas com alguma dificuldade na absorção de gorduras. A vitamina D3, tanto aquela formada na epiderme quanto a obtida na dieta (fontes naturais) ou através da suplementação, quando absorvida, circula transportada por alfa-globulinas específicas até o fígado.

  No fígado ocorre a primeira hidroxilação para a forma 25-hidroxivitamina D (calcifediol ou 25(OH)D), secretada novamente no plasma. É a principal forma de vitamina D circulante e é essa forma que é avaliada bioquimicamente para detectar as deficiências nutricionais dessa vitamina. A 25-hidroxivitamina D é hidroxilada novamente, dessa vez nos rins para a forma 1,25-dihidroxivitamina D3 (1,25(OH)2D3), a principal forma biologicamente ativa da vitamina D, conhecida também como calcitriol, ativa nos receptores de vitamina D em diversos tecidos.
  Por essa razão, em quadros de distúrbios renais graves, a forma preferencial de vitamina D a ser empregada é o calcitriol diretamente, já que sua formação através da hidroxilação renal estaria seriamente comprometida. A produção desses metabólitos é controlada principalmente pela concentração de paratormônio (PTH), cálcio e fósforo séricos.
   A vitamina D é estocada no tecido adiposo e muscular por longos períodos e é lentamente liberada dos sítios de estoque e da pele. Ergocalciferol e colecalciferol tem lento pico de ação e meia vida mais longa. Calcitriol e seu análogo alfacalcidol, entretanto, tem ação mais rápida e meia vida mais curta. A vitamina D, seus derivados e metabólitos são excretados principalmente pela bile e fezes com pequena parcela aparecendo na urina. Alguns derivados podem ser distribuídos no leite.

AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS:
  O status da vitamina D circulante é mensurado por meio dos níveis plasmáticos da 25(OH)D. A forma biologicamente ativa, 1,25(OH)2D3, não é indicada para esse propósito por várias razões:
a) os níveis plasmáticos da 1,25(OH)2D3 são rigidamente mantidos em concentração normal, o que prejudicaria a detecção de possível carência;
b) os níveis plasmáticos de 25(OH)D são aproximadamente cem vezes maiores do que os de 1,25(OH)2D3;
c) a hidroxilação de 25(OH)D para 1,25(OH)2D3 ocorre em diversos tecidos, cobrindo as necessidades locais;
d) a meia-vida da 1,25(OH)2D3 é de aproximadamente seis horas, enquanto a da 25(OH)D, de duas a três semanas.

  Os níveis séricos ideais têm sido muito discutidos na literatura. Alguns autores consideram que o nível ótimo de vitamina D seria aquele necessário para manter o PTH em níveis adequados, visto que a deficiência de vitamina D leva à diminuição do cálcio sérico, o qual, em consequência, estimula as glândulas paratireoides a liberar o PTH, a fim de elevar a reabsorção renal e óssea do cálcio. Nesse sentido, vários estudos têm encontrado um platô de absorção de cálcio e níveis adequados de PTH, com níveis de 25(OH)D próximos a 50 nmol/L.

Indicadores de saúde para vários níveis séricos da 25-OHD3
  Níveis séricos de 25(OH)D de pelo menos 30 a 45 ng/ml são o mínimo necessários para manter níveis adequados de PTH e maximizar os efeitos benefícios da vitamina D na saúde humana e pelo menos 400 UI ao dia de vitamina D são necessários para manter 25(OH)D sérico nessa faixa em jovens e adultos na meia-idade. A ingestão de pelo menos 600 UI ao dia é necessária para adultos com mais de 70 anos de idade.
  Avaliar ou não os níveis séricos de 25(OH)D para recomendar o uso de um suplemento ainda é uma conduta controversa. Entretanto, o maior debate atualmente é com níveis de 40-60 ng/ml (100-150 nmol/L), enquanto outros indicam níveis mais elevados como 55-90ng/ml (137.5-225 nmol/L). Para reduzir o risco de fraturas o ideal é pelo menos 40 ng/ml (100 nmol/L).

ASPECTOS FARMACOLÓGICOS:
  Conforme já descrito, a vitamina D é metabolizada no fígado para a forma 25(OH)D e depois nos rins para a forma 1,25(OH)2D, mas também é reconhecido que essa biotransformação ocorre em outros locais, como macrófagos, cérebro, cólon, próstata e mamas, entre outros tecidos-alvo, que têm condições enzimáticas para produzir o calcitriol (1,25(OH)2D) localmente.
  O calcitriol produzido nos rins cai na corrente circulatória até seus principais tecidos-alvo; intestinos e ossos interagem com receptores e interferem positivamente na absorção de cálcio, mobilizando a atividade osteoclástica. A produção local de calcitriol em tecidos não controlados pelo cálcio como o cólon, próstata e mamas, acredita-se, que tenha o propósito de controlar o crescimento e diferenciação celular e podem ser responsáveis pela redução do risco dessas células se transformarem para uma condição de malignidade. Estudos tem demonstrado a capacidade do calcitriol em inibir o crescimento de células cancerosas, induzir a maturação e a apoptose dessas células e reduzir a angiogênese. Calcitriol também inibe a produção renal de renina e tem atividade imunomodulatória nos monócitos e em linfócitos T e B ativados.

NECESSIDADES NUTRICIONAIS E DOSES RECOMENDADAS:
  Doses diferentes são recomendadas para diferentes grupos etários e estados específicos (gestação e lactação, por exemplo). As diversas fontes de informação disponíveis também não apresentam consenso, variando, consideravelmente, e provocando dúvidas em relação às reais necessidades e doses recomendadas. Por exemplo, em 2005, o Guia Dietético Americano recomendou para grupos de alto-risco (idosos, pessoas de pele escura ou com insuficiente exposição solar), consumo diário de 1.000 UI ao dia. Já outro Consenso definido num fórum, com mais de 300 cientistas de 23 países sobre a vitamina D, definiu que as diretrizes governamentais em todos os países, em relação à ingestão dessa vitamina na manutenção da saúde era insatisfatória e não refletia os avanços na pesquisa sobre ela na última década. Foi recomendado que a concentração sérica de 25(OH)D deveria ser de no mínimo 20 ng/ml e que o limite máximo tolerável de 2000 UI ao dia deveria ser reavaliado à luz desses novos dados.
  A RDA atual recomenda doses diárias acima de 500 UI e outras fontes recomendam 800 a 1000 UI diárias no mínimo. Desse modo, uma análise de risco redefiniu o limite máximo tolerável (UL) para 10.000 UI ao dia, para a população saudável em geral.

  A Academia Nacional de Ciências nos EUA, o Instituto de Medicina Americano e a Academia Americana de Pediatria recomendam a ingestão diária de vitamina D:
  • 1 a 50 anos = mínimo 200 UI
  • 51 a 70 anos = 400 a 600 UI
  • Maiores de 70 anos = 600 UI
  Para mulheres durante o climatério, a Fundação Nacional para a Osteoporose recomenda 800 a 1000 UI ao dia de vitamina D. Deficiências decorrentes de estados de má-absorção, doenças hepáticas, obesidade e outras condições depletoras de vitamina D, geralmente requerem doses maiores. Quando doses superiores são requeridas, o recomendável é utilizar os metabólitos biologicamente ativos, como alfacalcidol ou calcitriol.
  Um estudo demonstrou que 500 UI de vitamina D ao dia está associada com nível de 30 ng/ml de 25(OH)D. Com base nos estudos citados neste artigo, o índice alvo de 25(OH)D deve ser de pelo menos 30 ng/ml e não superior a 150 ng/ml. Os idosos requerem doses mais altas em função da reduzida absorção. O guia dietético para idosos e o limite de tolerância de 2000 UI/dia não deve ser ultrapassado. Além disso, também é recomendada, para manter esses níveis séricos de 25(OH)D, exposição solar adequada, conforme a região geográfica e o grupo racial, porém é necessária moderação nessa exposição já que alterações actínicas são associadas à radiação UV e apresentam considerável evidência no câncer de pele.

  Se a luz solar é usada como fonte de vitamina D, a exposição deve ser monitorada, assim, não deve ocorrer vermelhidão na pele, a exposição da face deve ser evitada e indivíduos com fototipos de pele I e II não devem ultrapassar 20 minutos de exposição diária. A suplementação oral de vitamina D3 deve ser utilizada para as pessoas de pele muito clara ou sensível ao sol, aquelas que ingerem medicamentos que causam foto sensibilidade e ou não se expõem adequadamente a luz solar. No Brasil, as recomendações de dose de suplementos nutricionais estão definidas:

 - Resolução RDC nº 269/2005: segundo a qual, a IDR definida de vitamina D para adultos, gestantes, lactantes, lactentes (0 a 11 meses) e para crianças (1 a 10 anos) é de 5mcg, sendo: 1mcg de colecalciferol = 40 UI. Portanto, 200 UI.
 - Port. 40/98 - tem por objetivo, regulamentar os Níveis de Dosagens Diárias de Vitaminas e Minerais em Medicamentos, definido os critérios para MEDICAMENTOS A BASE DE VITAMINAS E MINERAIS como sendo:
  •  de "Venda Sem Exigência de Prescrição Médica" - níveis diários situem-se até os limites constantes da tabela presente na resolução.
  • de "Venda Com Exigência de Prescrição Médica" - níveis diários situem-se acima dos limites considerados seguros por este regulamento.


ESTADOS DE DEFICIÊNCIA

USOS E APLICAÇÕES:
Sistema Músculo Esquelético - A deficiência de vitamina D leva ao desenvolvimento de uma síndrome caracterizada pela hipocalcemia, hipofosfatemia, desmineralização óssea, dor, fraturas ósseas e fraqueza muscular em adultos conhecida como osteomalácia. Em crianças, essa síndrome inclui retardo no crescimento e deformidade óssea e é conhecida como raquitismo.
  A concentração de vitamina D tem correlação positiva com a densidade mineral óssea (DMO) e a suplementação de vitamina D associada ao cálcio mostra-se positiva no aumento da DMO em inúmeros estudos. Suplementação adequada de cálcio e vitamina D é indicada para a prevenção e terapia complementar da osteoporose. Alguns estudos sugerem que a eficácia dos bisfosfonatos depende dos níveis de vitamina D circulante, por isso, a indicação da suplementação de vitamina D em pacientes tratados com bisfosfonatos.

HIPERPARATIROIDISMO:
  O hiperparatiroidismo secundário na osteodistrofia renal pode responder ao tratamento com calcitriol ou seu análogo, o alfacalcidol, esse com menos efeito nas concentrações de cálcio e fosfato, mantendo o efeito supressor do paratormônio.

ESCLEROSE MÚLTIPLA:
  A esclerose múltipla é mais comum em regiões distantes do Equador e tem sido sugerido que a exposição solar consequente presença de vitamina D exercem efeito protetor. Estudos também evidenciam baixas concentrações de vitamina D em pacientes com esclerose múltipla, demonstrando, portanto, uma relação inversa entre a suplementação de vitamina D e o risco da doença.

DOENÇAS ENDOCRINOMETABÓLICAS:
  Evidências recentes demonstram que a insuficiência da vitamina D pode estar relacionada ao diabetes melito, à obesidade e à hipertensão.

 - DIABETES MELITUS
  Vitamina D tem participação na homeostase da glicose e no mecanismo de liberação de insulina. Estudos observacionais tem sugerido que a suplementação de vitamina D tem papel benéfico na redução de risco de diabetes tipo 1 e tipo 2.

 - OBESIDADE
  Evidências sugerem que o depósito de vitamina D nos adipócitos, fato que diminui a sua biodisponibilidade e aciona o hipotálamo a desenvolver uma cascata de reações que resulta no aumento da sensação de fome e diminuição do gasto energético, pode agravar situações de sobrepeso e obesidade. Tal situação também gera aumento nos níveis de PTH, consequente diminuição da sensibilidade à insulina e aumento desproporcional na concentração de cálcio intracelular.

  - SÍNDROME METABÓLICA
  Há vários anos se sabe que existe uma relação entre secreção normal de insulina pelas células beta-pancreáticas e a vitamina D. O pâncreas tem um gente para receptor de vitamina D com a habilidade para converter 25(OH)D em 1,25(OH)D2, resultando no aumento da produção de insulina. A maior liberação de insulina reduz a intolerância a glucose, reduzindo a glicemia e consequentemente mobilizando o gasto energético no tecido adiposo.

DOENÇAS CARDIOVASCULARES:
  O tecido do miocárdio tem receptores de cálcio e vitamina D, indicando sua participação na contração do miocárdio. A deficiência de vitamina D é identificada pelo papel protetor para o Sistema Cardiovascular (SVC).

 - HIPERTENSÃO
  A hipertensão ocorre principalmente pela ativação inadequada do sistema renina-angiotensina. São vários os estudos que apontam níveis séricos de 1,25(OH)D3 inversamente associados à atividade da renina plasmática em normotensos e hipertensos, demonstrando que a supressão (efeito inibitório) da expressão de renina e a regulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona pela 1,25(OH2)D3 in vivo é independente do PTH e do cálcio.
  Assim, a suplementação de vitamina D, eleva níveis de 25(OH)D e 1,25(OH)2D e provocam moderada, porém significativa, redução na pressão arterial. Também há uma associação benéfica entre a vitamina D e o menor risco de infarto do miocárdio, isquemia cardíaca e ICC.

 - ATEROSCLEROSE E INFLAMAÇÃO
  Adultos com elevada concentração sérica de 25(OH)D tem significativa e dose-dependente redução no espessamento da carótida, relacionando a deficiência de vitamina D com a ateriosclerose subclínica. A deficiência de vitamina D também aumenta a inflamação sistêmica evidenciada pela elevação dos marcadores inflamatórios, PCR e interleucina-10.
  A administração de análogos de vitamina D limitam os marcadores inflamatórios e reduzem a formação de placas ateromatosas.

PREVENÇÃO DE CÂNCER:
  A forma ativa da vitamina D, calcitriol (1,25-dihidroxicolecalciferol), tem sido investigada na promoção da diferenciação tecidual e inibição da proliferação celular in vitro, estimulando a investigação do papel potencial e eficácia dos metabólitos e análogos de vitamina D em neoplasias malignas e outros distúrbios relativos ao crescimento celular, como a psoríase.
  Pelas evidências encontradas, há uma relação positiva entre níveis adequados de vitamina D e baixo risco de câncer, o que sugere que a suplementação da vitamina D pode reduzir incidência de algumas formas de câncer e a mortalidade a um custo baixo e com raríssimos efeitos indesejáveis. A vitamina D e seus metabólitos ativos reduzem a incidência de vários tipos de câncer:
 - por inibição da angiogênese no tumor;
 - por estímulo a aderência das células, aprimorando a comunicação intercelular através das junções celulares e inibindo a proliferação celular;
 - por ajudar a manter um gradiente normal de cálcio nas células epiteliais do cólon e reduzir a proliferação de células epiteliais de alto-risco carcinogênico neste tecido;
 - por inibir a mitose das células epiteliais mamárias e também aumentar a liberação em pulso íon Ca++ dos estoques intracelulares, induzindo a apoptose celular.

  Os resultados mais favoráveis e a maior parte das pesquisas sobre os efeitos da vitamina D no tratamento de câncer concentram-se no câncer de cólon, câncer de mama, câncer de próstata.

DOENÇAS AUTOIMUNES

 - DOENÇA INTESTINAL INFLAMATÓRIA
  Alguns estudos demonstram a alta prevalência de deficiência de vitamina D em pacientes com doença intestinal inflamatória.

 - PSORÍASE
  O análogo de vitamina D, calcipotriol, é frequentemente utilizado como alternativa no tratamento inicial de psoríase leve a moderada. Calcitriol também tem sido testado, tanto topicamente quanto por via oral, se mostrou tão eficaz quanto o calcipotriol, na forma de produtos para uso tópico.

 - ARTRITE REUMATÓIDE (AR)
  A deficiência de vitamina D é comum em doenças autoimunes inflamatórias, como a artrite reumatoide. Vários estudos demonstram uma relação inversa entre a ingestão de vitamina D e o risco de desenvolver AR.

SISTEMA COGNITIVO
  Deficiência de vitamina D aparentemente aumenta o risco de distúrbios cognitivos especialmente em mulheres idosas. A ação da vitamina D no SNC é regular a neurotransmissão, neuroimunomodulação e neuroproteção.

EFEITOS ADVERSOS:
 - HIPERCALCEMIA
  Doses muito elevadas e diárias podem causar hipercalcemia, com fraqueza muscular, apatia, cefaleia, anorexia, náusea, dor óssea, calcificação ectópica, proteinuria, hipertensão e arritmias cardíacas. O quadro crônico pode causar calcificação vascular generalizada, nefrocalcinose e rápida deterioração da função renal. Calcitriol tópico pode afetar a homeostasia cálcica e foi observada hipercalcemia em alguns estudos.

TOXICIDADE POTENCIAL
  A vitamina D, dentre todas as vitaminas, é a mais propensa a causar efeitos tóxicos. A tolerância individual da vitamina D é variável e as crianças são geralmente mais suscetíveis aos efeitos tóxicos. O maior risco de toxicidade é esperado nas formas mais potentes de vitmina D (alfacalcidol e calcitriol).
  Sintomas de superdosagem: anorexia, letargia, náusea, constipação ou diarreia, poliúria, nocturia, sudorese, cefaleia, sede, sonolência e vertigem. Efeitos tóxicos potenciais da overdose de vitamina D, como desmineralização óssea, hipercalcemia, hipercalciuria ou nefrocalcinose com falência renal, são possíveis geralmente em doses diárias superiores a 10.000 UI ingeridas de forma prolongada. De acordo com dados publicados na literatura, não são conhecidos riscos à saúde associados a doses de vitamina D dentro das faixas recomendadas até o máximo de 2000 UI ao dia.

INTERAÇÕES

FORMAS FARMACÊUTICAS
VIA ORAL


  A vitamina D pode ser preparada de forma isolada ou em associação com sais de cálcio ou com outras vitaminas e minerais, na forma de polivitamínicos para administração por via oral para uso adulto ou pediátrico. Nas preparações orais é mais comum utilizar a forma colecalciferol ou D3, os motivos já foram elucidados nessa postagem. Nesses casos, as formas farmacêuticas mais comumente usadas são:
  • Cápsulas Gelatinosas
  • Comprimidos Mastigáveis: edulcorados e flavorizados para ficarem palatáveis.
  • Comprimidos Revestidos: geralmente utilizados nas associações com sais de cálcio, em que se deseja proteger a mucosa gástrica da ação de alguns sais de cálcio. Nesse caso é usado um revestimento gastro-resistente.
  • Solução Oral: preferencialmente oleosa, pelo caráter lipossolúvel da vitamina D. Nesse caso é necessário tomar cuidado com as associações, que deverão ter o mesmo caráter lipossolúvel. Geralmente o veículo usado é um óleo vegetal edulcorado e flavorizado e é necessário preservar a formulação com um agente antioxidante apropriado. Essa solução geralmente é administrada em gotas.
  • Suspensão Oral: geralmente usada em associações com sais de cálcio devido ao caráter insolúvel da maioria dos sais de cálcio. Pode ser edulcorada e flavorizada para melhorar a palatabilidade e deve ser utilizado sistema preservante apropriado.
  • Mistura em Pó para Suspensão Extemporânea: forma farmacêutica atual e útil para associações com altas doses de minerais, vitaminas ou outros componentes para facilitar a posologia. A preparação extemporânea apresenta a vantagem de maior estabilidade comparada à suspensão líquida. Também deve ser edulcorada e flavorizada para melhorar a palatabilidade. Pode ser dispensada em sachês com doses individuais ou a granel.
VIA SUBLINGUAL E BUCAL

  A administração pela via sublingual com absorção pela mucosa bucal visa melhorar a biodisponibilidade da vitamina D e pode ser realizada através da administração das seguintes formas farmacêuticas:
  • Solução: pode ser utilizada a mesma preparação utilizada para administração por via oral, porém com viscosidade aumentada e orientação posológica apropriada.
  • Comprimidos orodispersíveis: forma farmacêutica sólida preparada por compactação úmida. O resultado é um comprimido de tamanho pequeno, bastante friável e sensível à ação da umidade.
VIA TÓPICA

  • Creme ou pomada: a vitamina D aplicada por via tópica é usada no tratamento de doenças inflamatórias crônicas como psoríase, também em processos de cicatrização e proteção da pele, como em pomadas cicatrizantes ou para assaduras. As formulações devem possuir caráter oleoso, compatível com a característica lipossolúvel da vitamina D.
CUIDADOS FARMACOTÉCNICOS

DOSE E DILUIÇÃO
  Independentemente da forma farmacêutica utilizada é importante atentar para a correlação entre a dose em UI e as unidades de massa correspondente (mg, g). Uma vez que as doses posológicas em unidades de massa são muito pequenas, o processo requer a realização de uma pré-diluição da vitamina D, a fim de possibilitar a pesagem segura e adequada da mesma. 
  Essa pré-diluição deve ser realizada pelo processo de diluição geométrica, de acordo com procedimentos internos pré-estabelecidos, tanto para o preparo quanto para a identificação e armazenamento dessa pré-diluição.

CONCLUSÃO
  A ingestão de suplementos de vitamina D pode solucionar a elevada predominância de deficiência desta vitamina. Fortes evidências indicam que a ingestão ou síntese de vitamina D está associada com reduzida incidência de mortes por câncer de cólon, mamas, ovários e próstata.
  A um baixo custo, a prevenção poderia equilibrar o elevado custo emocional e econômico do tratamento de câncer que poderia ser atribuído a insuficiência de vitaminha D. Desse modo, com essa ampla gama de usos e aplicações, a suplementação de vitamina D tornou-se especialmente importante em inúmeras áreas médicas, sendo utilizada com muito êxito em endocrinologia, cardiologia, reumatologia, oncologia e outras. Cabe aos farmacêuticos atentar para todos os aspectos, desde a avaliação da prescrição até o adequado preparo de todas as formas farmacêuticas frequentemente prescritas nas preparações com vitamina D, garantindo eficácia e segurança dos produtos aviados.

FONTES
1. ANFARMAG
2. Portaria nº40, MS de 13 de janeiro de 1998 - Regulamento que estabelece normas para níveis de dosagens diárias de vitaminas e minerais em medicamentos - grupo de trabalho instituído pela portaria SVS/MS nº 254, publicada no D.O.U de 24 de junho de 1997.
3. Lappe J M, Gustafson D T, Davies K M, Recker R R, Heaney R P - Vitamin D and calcium supplementation reduces cancer risk: results of a randomized trial 1,2 - Am J ClinNutr2007;85:1586-91. Download de: www.ajcn.org by guest.
4. Resolução RDC nº269, de 22 de setembro de 2005: Aprova o "Regulamento Técnico sobre a Ingestão Diária Recomendada (IDR) de Proteínas, Vitaminas e Minerais". ANVISA.
5. Melville N. A. - Bisphosphonate Most Effective With Higher Vitamin D Levels American Society for Bone and Mineral Reserach (ASBMR) 2011 Annual Meeting; - September 21, 2011 - Medscape Medical News 2011 WebMD,LLC.
6. Goodman A - Intensive Ergocalciferol Supplementation May Be Indicated for Patients With RA - European Leag Against Rheumatism (EULAR) Congress 2010. Presented June 19, 2010. (Rome, Italy).



                                                              

Nayara Souto Maior e Valdemir Soares


Nayara Souto Maior - Farmacêutica Generalista, Pós-Graduanda em Gestão e Tecnologia Industrial Farmacêutica, atua como Farmacêutica Magistral.

Valdemir Soares - Farmacêutico Generalista e empresário do ramo automotivo.

5 comentários:

  1. A explicação foi muito boa,mas fiquei com uma dúvida: Se a vitamina D3 para ser ativada precisa de uma passagem pelo fígado para sofrer a primeira hidroxilação, qual a eficácia de uma forma sublingual, sendo que nesta forma o medicamento não passa pelo fígado?

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    1. Olá Otto Prisma, primeiro gostaríamos de agradecer a visita e o comentário! O Colecalciferol (D3) parece elevar a concentração sérica de vitamina D de forma mais eficiente do que o ergocalciferol, e mesmo sendo administrada via sublingual, quando absorvida, circula transportada por alfa-globulinas específicas até o fígado onde sofre a hidroxilação aumentando a atividade e eficácia.

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  2. Olá, como faço para adquirir o comprimido sublingual?

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    1. Boa noite, Franci. Você pode conseguir o comprimido sublingual em farmácias de manipulação, desde que você saiba a concentração correta, de preferência leve uma prescrição do seu médico para mandar manipular.

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  3. Tenho tentado sanar uma dúvida e o mais próximo da informação que achei foi nesse site. Então gostaria de confirmar: Posso comprar, por exemplo, uma vitamina d3 em cápsula, abrí-la e colocar o pó em baixo da língua? Ou a formulação sublingual tem algo específico? Qual a diferença, nesse aspecto? Obrigado!

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